Por Michelle
Portela, de Manaus,
Agência FAPESP
– Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)
conseguiram descrever como abelhas sem ferrão do gênero Melipona contribuem
para a dispersão de sementes de angelim-rajado (Zygia racemosa), espécie
presente na vida do ribeirinho e de alto valor comercial. Esse é o terceiro
caso no mundo, comprovado cientificamente, de melitocoria, a dispersão de
sementes de plantas por abelhas.
A dispersão do
angelim-rajado no caso estudado foi realizada por abelhas sem ferrão. O fato
surpreendeu os pesquisadores pelo grande tamanho da semente carregada com
resina pelas operárias. As abelhas sem ferrão são responsáveis por 30% a 90% da
polinização de plantas em diferentes biomas brasileiros.
A participação
é acentuada na região amazônica. "O Amazonas concentra a maior variedade
de abelhas sem ferrão do mundo. Com a maior extensão territorial e mata
preservada, a principal diversidade está aqui, bem perto de nós", disse o
biólogo Alexandre Coletto da Silva, do Inpa, à Agência FAPESP.
Das cerca de
400 espécies de abelhas sem ferrão descritas na literatura científica, pelo
menos 300 estão na Amazônia. "A importância da descoberta da participação
das abelhas na dispersão do angelim-rajado aumenta quando se considera o valor
do uso dessa espécie madeireira pelos povos tradicionais da floresta",
afirmou Coletto da Silva.
O
angelim-rajado é muito usado na construção de paredes de casas ou no entalhe de
móveis, como mesas e cadeiras. A descoberta foi descrita na revista Acta
Amazonica.
Durante um
ano, o grupo da bióloga Christinny Giselly Bacelar Lima, doutoranda em botânica
pelo Inpa, acompanhou o comportamento das abelhas entre o meliponário (onde se
criam abelhas sem ferrão) do Inpa e a floresta natural do campus da
Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Quando voltavam da floresta, algumas
traziam sementes para as colméias.
Segundo
Coletto da Silva, os pesquisadores se questionaram sobre a possibilidade de
dispersão pelas abelhas. "Se eram abelhas mesmo que estavam levando as
sementes para lá, precisávamos provar esse comportamento", disse.
Uma câmera foi
instalada na frente da colméia para registrar o momento em que as abelhas
voltavam para "casa" com as sementes presas nas pernas. De modo a
descobrir a semente de qual espécie de planta estava sendo transportada, os
pesquisadores entraram na mata da Ufam, para onde sabiam que as abelhas voavam
uma vez que haviam observado a direção e sentido que as operárias se deslocavam
após sair das colméias.
"No
primeiro dia de campo, após várias horas de caminhada pela mata, confirmamos a
existência de inúmeras mudas como as que trazíamos conosco, obtidas a partir
das sementes trazidas pelas abelhas e postas para germinar. E, mais à frente,
ao olharmos para cima deparamos com um grande angelim-rajado", disse
Coletto da Silva.
Posteriormente,
ele e outro membro do grupo subiram no angelim por rapel para fotografar a
coleta. "No alto, fotografamos abelhas coletando sementes. Era o terceiro
caso registrado no mundo", afirmou.
O primeiro
caso de melitocoria foi registrado na Austrália. Uma abelha do grupo das
trigonas (Trigona carbonaria), espécie sem ferrão menor, carregava a semente de
um tipo de eucalipto. O segundo caso foi no Amazonas, também com abelhas
Melipona, que espalharam sementes da espécie vegetal Coussapoa asperifolia.
O artigo
Melitocoria de Zygia racemosa (Ducke) Barneby & Grimes por Melipona
seminigra merrillae Cockerell, 1919 y Melipona compressipes manaosensis
Schwarz, 1932 (Hymenoptera, Meliponina) en la Amazonía Central ,
Brasil, de Christinny Giselly Bacelar-Lima e outros, publicado na Acta
Amazoniza (vol. 3, 3ª edição), pode ser lido em http://acta.inpa.gov.br.
Fonte:
Michelle Portela / Agência Fapesp
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