A
descoberta de uma casta morfológica de "soldados" em população de
abelhas foi anunciada na edição desta semana (datada de 10/1) do Proceedings of
the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), um dos
mais citados e prestigiados periódicos científicos do mundo. O artigo é de
autoria de Cristiano Menezes, desde 2011 pesquisador da Embrapa Amazônia
Oriental (Belém,PA), e de colaboradores da Universidade de São Paulo e Universidade
de Sussex, da Inglaterra.
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Abelhas
forrageira (Esquerda) e soldado (Direita)
Foto de
Cristiano Menezes
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É a primeira vez que uma abelha soldado é descrita. "Tem características físicas apropriadas à defesa do ninho. Já se conhecia casta morfológica para soldados entre insetos, mas apenas em algumas espécies de formigas e de cupins, em abelhas ainda não”, contextualiza o pesquisador.
A
descoberta ocorreu em 2009, em população de abelhas sem ferrão jataí, quando
Menezes era doutorando da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) em Ribeirão
Preto (SP) e durante uma das visitas ao Brasil de Francis
Ratnieks, pesquisador da Universidade de Sussex, em viagem então financiada
pela Fapesp.
Menezes
conta que o projeto (desenvolvido em área cedida pelo cientista e professor
Paulo Nogueira Neto), consistia inicialmente em comparar as abelhas guardas que
sobrevoam o ninho de jataís às que ficam paradas junto à entrada. Ao observar
que as abelhas guardas eram maiores que as abelhas forrageiras (que saem do
ninho para buscar alimento), ele passou a coletar e a medir abelhas de
diferentes ninhos. "Verificamos - eu e Christoph Grüter, pós-doutorando do
grupo da Universidade de Sussex - que estávamos à frente do primeiro caso de
uma casta de soldados nas abelhas sociais", relata.
A análise
estatística minuciosa e os experimentos realizados demonstraram que há uma
casta de soldados nas abelhas jataís. Analisando os favos de cria, os autores
verificaram que 1% das abelhas operárias produzidas na colônia são guardas.
"O significado atribuído a esta casta de soldados foi a defesa contra a
invasão do ninho por abelhas ladras do gênero Lestrimelitta, que, por não
coletarem alimento nas flores, vivem do saque de alimento de outros
ninhos", explica o pesquisador.
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Muito
menores abelhas Jataí soldado prende-se
as asas das abelhas ladras |
Os cientistas também concluíram que as abelhas guardas jataí são 30% mais pesadas do que as forrageiras e têm morfologia ligeiramente diferente, com pernas maiores e cabeça menor. "As guardas jataí ficam paradas sobre o tubo de entrada ou sobrevoando ao redor da colônia, onde promovem a defesa do ninho contra abelhas ladras (Lestrimelitta limão). Quanto maior é a abelha guarda, mais eficiente ela é na defesa da colônia", descreve Menezes.
Para o
chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Claudio José Reis de Carvalho, o
trabalho trata-se de um excelente resultado científico, referente a um dos
eixos da missão da instituição de pesquisa que é o de gerar conhecimento sobre
a biodiversidade e o capital natural da Amazônia visando seu posterior uso
racional e/ou produção de serviços ambientais. "Quanto mais conhecermos
sobre esses animais, mais perto estaremos de desenvolver tecnologias úteis à
agricultura tais como a geração de insetos voltados à polinização de espécies
de plantas nativas da Amazônia ou mesmo de alguma planta cultivada exótica que
puder se beneficiar disso, a exemplo do que já ocorre em outros paises",
avalia Carvalho.
Entrada do
Ninho das Abelhas Jataís com suas Abelhas Guardas
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