sábado, 8 de dezembro de 2012

Um novo parasita de colônias de Meliponini é descoberto em Mossoró (RN)


Quem é Camila Maia Silva?
Camila Maia Silva em 2004, concluiu graduação em Ciências Biológicas, pelo Centro Acadêmico Barão de Mauá, Ribeirão Preto/SP. Em 2009, concluiu mestrado em Ciências com ênfase em Entomologia pela Universidade de São Paulo, FFCLRP. Durante esse período desenvolveu projeto sobre comportamento de forrageamento de abelhas Africanizadas Apis mellifera, intitulado: “Influência do tamanho do alvéolo de cria no peso ao nascer e no comportamento de forrageamento das operárias de abelhas Apis mellifera L” sob a orientação do Prof. Dr. David De Jong.
Em março de 2008 e de 2009, realizou estágio em Buenos Aires, Argentina, no laboratório do Grupo de Estudio de Insectos Sociales, Facultad de Ciencias Exactas y Naturales, Universidad de Buenos Aires, liderado pelo Prof. Dr. Walter Marcelo Farina, no projeto desenvolvido pelo Prof. Dr. Michael Hrncir. Ness eprojeto intitulado “Influência do fluxo alimentar nos sinais de recrutamento (dança e vibrações torácicas) em Apis mellifera” foram analisados os “sons” produzidos durante a “linguagem de dança” das abelhas Apis mellifera, o qual deu origem à publicação: HRNCIR, M.; MAIA-SILVA, C.; MC CABE, S.I.; FARINA, W.M. The recruiter’s excitement – features of thoracic vibrations during the honey bee’s waggle dance related to food source profitability. Journal of Experimental Biology, v. 214, p. 4055-4064, 2011.
Atualmente é doutoranda na Pós-graduação em Entomologia da Universidade de São Paulo, FFCLRP, sob a orientação da Profa. Dra. Vera Lucia Imperatriz-Fonseca e desenvolve o projeto intitulado “O impacto das mudanças ambientais sazonais na estrutura e no comportamento de colônias de Melipona subnitida (Apidae, Meliponini)”. Objetivo dessa pesquisa é identificar possíveis variações estruturais (número de potes de alimento e na quantidade de células de cria) e comportamentais (forrageamento) que ocorrem em colônias de abelhas sem ferrão (Melipona subnitida) ao longo do ano. Esse estudo visa investigar quais variáveis climáticas e/ou ecológicas provocam tais alterações estruturais e comportamentais nas colônias dessa espécie.
Durante o desenvolvimento desse projeto foi publicado o livro: MAIA-SILVA, C.; SILVA, C. I.; HRNCIR, M.; QUEIROZ, R. T.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Guia de plantas visitadas por abelhas na Caatinga. Fortaleza-CE: Editora Fundação Brasil Cidadão, 2012. 191p. http://wp.me/p2UiKJ-D
Entre os meses de agosto e setembro de 2012, realizou estágio na Universidade de Ulm, Alemanha, Institute of Experimental Ecology, em parceria com o Prof. Dr. Stefan Jarau. Durante esse período desenvolveu atividades relacionadas à Ecologia química, através de análises dos hidrocarbonetos cuticulares do parasita Plega hagenella (Neuroptera, Mantispidae) e de seu hospedeiro Melipona subnitida (Apidae, Meliponini). Durante esse projeto realizamos as seguintes publicações:
MAIA-SILVA, C.; HRNCIR, M.; KOEDAM, D.; MACHADO, R.J.P.; IMPERATRIZ-FONSECA, V.L. Escaping with the garbage-removal: adaptive parasite strategy of mantisflies (Plega hagenella) during mass-infestations of eusocial bee colonies (Melipona subnitida) (in press Naturwissenschaften).
MAIA-SILVA C, HRNCIR M, KOEDAM D, MACHADO RJP, IMPERATRIZ-FONSECA VL. First record of mantisflies (Plega hagenella) parasitizing eusocial bee colonies (Melipona subnitida).5th European Conference of Apidology Halle an der Saale, Alemanha, 2012.
CAMILA MAIA-SILVA, DIRK KOEDAM, MICHAEL HRNCIR, VERA LUCIA IMPERATRIZ-FONSECA. Um novo parasita de colônias de Meliponini é descoberto em Mossoró (RN) (nota de divulgação científica submetida à revista Mensagem Doce).
Como foi a pesquisa?
Ao fazerem uma vistoria em uma colônia de Melipona subnitida, jandaíra, Camila e Vera notaram a presença de algumas células de cria com aspecto diferente, com a parte de cerume raspada pelas operárias e um casulo forte e esbranquiçado aparente. (fig.1). 
Figura1: Células de cria de Melipona subnitida (Apidae, Meliponini) parasitada por Plega hagenella (Neuroptera, Mantispidae). As células de cria parasitadas possuem coloração branca. A cera que envolve o casulo do parasita é retirada pelas abelhas (Fotos: 1, 2 Michael Hrncir e 3 Dirk Koedam).

Abrimos com dificuldade uma destas células de cria, pois o casulo é muito resistente. O que surgiu foi um inseto muito diferente das abelhas, com uma cabeça pequena e mandíbula forte, que nunca tínhamos visto em uma colônia de abelhas sem ferrão. Até o momento não há na literatura especializada nenhum registro de outros insetos nascendo das células de cria de abelhas sem ferrão, no lugar das abelhas.
Outras colônias também apresentavam células de cria com a mesma aparência. Delas, ao anoitecer, emergia um inseto ativo, mas ainda sem asas (fig.2). Pernas anteriores raptoriais, parecendo com um louva-deus. Saíam da colmeia e só então sofriam a última muda (fig.3). Era um inseto da Ordem Neuroptera; esses insetos dificilmente são encontrados na natureza e em coleções biológicas de museus. Na literatura não havia nenhuma referência à invasão de ninhos e parasitismo de cria em abelhas sem ferrão. Algumas espécies de Neuroptera são mais conhecidas e estudas, pois são predadores de aranhas, alimentando-se de seus ovos e cria jovem.

Figura 2: Farato de Plega hagenella (Neuroptera, Mantispidae) realizando a última muda e transformando-se em adulto completo. As barras indicam 2 mm (Fotos: Michael Hrncir).
Figura 3: Adulto de Plega hagenella (Neuroptera, Mantispidae) após realizar a última muda (Fotos: Dirk Koedam).

Procuramos os especialistas no grupo e o parasita foi identificado por Renato J. P. Machado. O parasita era Plega hagenella uma espécie com distribuição desde a América Central até o sudeste do Brasil, mas com poucos exemplares em coleções brasileiras e nenhum registro no nordeste brasileiro.
Durante os meses de abril e maio de 2012, ao examinarmos as colônias de duas localidades, na Fazenda Experimental Rafael Fernandes, em Mossoró/RN, onde fica o meliponário da UFERSA, e na Fazenda Belém, em Icapuí/CE, distantes entre si cerca de 35 km, verificamos que 48% das colônias investigadas (total de 64 colônias investigadas) foram infestadas pelo parasita.
Ao contrário de outros insetos que parasitam colônias de Meliponini e geralmente se alimentam de pólen, néctar ou crias mortas, as larvas de Plega hagenella desenvolvem-se dentro das células de crias e se alimentam de larvas ou de pupas das abelhas. Antes da fase de pupa a larva do parasita come completamente a abelha imatura (fig.4). Consequentemente, a infestação reduz a produção de novas operárias, provocando um declínio nas populações das colônias.

Figura 4: Larva de Plega hagenella (Neuroptera, Mantispidae), acima, alimentando-se de uma larva de abelha Melipona subnitida (Apidae, Meliponini) (Foto: Dirk Koedam).

Ainda não sabemos se as fêmeas adultas de P. hagenella invadem as colônias de abelhas para colocar seus ovos dentro das células de cria operculadas. No entanto, outra possibilidade seria que as fêmeas deixam seus ovos nas flores e as larvas de primeiro instar, as quais são pequenas e móveis, sejam levadas pelas abelhas forrageiras para dentro das colônias. Ou ainda, os ovos poderiam ser deixados em locais próximos às colônias e as larvas de primeiro instar entrariam, através de fendas, nas colônias.
Existem poucos estudos sobre a biologia desses insetos de grande importância para a Meliponicultura. Solicitamos aos meliponicultores que encontrarem células de cria com este aspecto, ou o parasita no ninho ou nas proximidades, que se comuniquem conosco; o parasita pode ser mantido em álcool ou no próprio casulo, em um tubo bem fechado, e enviado para a coleção do Departamento de Ciências Animais da UFERSA, a/c de Michael Hrncir, no endereço mencionado neste trabalho.
Os vídeos


Agradecimentos
Os autores agradecem ao CETAPIS - Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do RN pelas facilidades oferecidas para os estudos com abelhas na Fazenda Rafael Fernandes, e ao projeto De Olho na Água (Programa Petrobras Ambiental) por possibilitar estudos de abelhas jandaíra na Fazenda Belém/CE. A CAPES (CMS: bolsa de doutorado; VLIF: bolsa prof. visitante) e ao CNPq (DK: bolsa DCR; MH: 304722/2010-3) pelo apoio financeiro.
Referências
Hook AW Oswald JD, Neff JL (2010) Plega hagenella (Neuroptera: Mantispidae) parasitism of Hylaeus (Hylaeopsis) sp. (Hymenoptera: Colletidae) reusing nests of Trypoxylon manni (Hymenoptera: Crabronidae) in Trinidad. J Hymenopt Res 19: 77-83
Maia-Silva C, Hrncir M, Koedam D, Machado RJP, Imperatriz-Fonseca VL (in prep.) Escaping with the garbage-removal: adaptive parasite strategy of mantisflies (Plega hagenella) during mass-infestations of eusocial bee colonies (Melipona subnitida).
Nogueira-Neto P (1997) Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão, Editora Nogueirapis, São Paulo
Penny ND (1982) Neuroptera of the Amazon Basin. Part 6. Mantispidae. Acta Amazon 12: 415-463



Um comentário:

  1. Amigo Jose!!

    Parabéns pela postagem!!

    Realmente esse assunto é de muito interesse para todos os meliponicultores.Pois as nossas abelhas nativas já sofrem muito com a devastações de seu habitat,e ainda "aparece" esse "bicho" parasita para dificultar ainda mais a vida das nossas abelhas...

    Abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.

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