sábado, 24 de março de 2012

Técnica produz abelhas rainhas da espécie jataí in vitro


Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, um estudo inédito sobre o comportamento das abelhas Tetragonisca angustula propiciou a reprodução in vitro da espécie a fim de multiplicar suas colônias.

Pesquisador observou condições naturais das colônias para reproduzí-las em laboratório.


Como explica o biólogo Mauro Prato, grande parte dos alimentos do tipo hortifruti que o homem consome vem de plantas polinizadas por abelhas. Assim, a manipulação das colônias pode ter grande influência para a produção de alimentos.

A pesquisa Ocorrência natural de sexuados, produção in vitro de rainhas e multiplicação de colônias em Tetragonisca angustula (Hymenoptera, Apidae, Meliponini) foi dividida em três etapas: o monitoramento do que acontece dentro da colônia (para entender a reprodução natural das abelhas rainhas e com que frequência elas e os machos são produzidos); a produção in vitro das rainhas (possível por causa dessa observação prévia) e a multiplicação da colônia. A espécie utilizada, conhecida como jataí, é nativa do Brasil e não possui ferrão. Prato enfatiza que o estudo também pode servir para a maioria das outras abelhas do tipo. O orientador da pesquisa foi o professor Ademílson Espencer Egea Soares.

Observando a Tetragonisca angustula em condições naturais, o biólogo constatou que o que determina qual larva vai virar uma abelha rainha ou uma operária é a quantidade de alimento oferecido a ela. Algumas das células presentes nos favos são maiores do que as outras, e se uma célula é maior, vai receber mais alimento. Desta célula, emerge uma rainha. Nesta observação do processo natural, Prato coletou o alimento produzido pela própria colônia que seria utilizado para a produção da rainha, além de larvas em seu período inicial de desenvolvimento. Em laboratório, reproduziu artificialmente as células reais, com tamanho exatamente igual às encontradas na natureza, e ofereceu a elas o alimento retirado da natureza (55 microlitro de alimento para cada célula, também um número exatamente igual ao observado). Este processo, que ocorre dentro de uma estufa, é a produção in vitro de rainhas. “Fizemos em laboratório o que as operárias fazem dentro da colônia”, conta. Este processo aumenta o número de rainhas, que, na natureza é considerado baixo. “Mas não é que seja realmente baixo, é o suficiente para as abelhas se multiplicarem. Porém, para o produtor, em grande escala, esse número não é o suficiente, o que mostra a utilidade deste processo”, acrescenta o biólogo.

Produção in vitro de rainhas: larvas em desenvolvimento

Produção in vitro de rainhas: larvas em desenvolvimento.

Depois do nascimento das rainhas, é feita a multiplicação das colônias. O processo se dá por meio da retirada de material (como favos de cria, abelhas operárias jovens e alimentos) de um dos ninhos de um meliponário (o local aonde se criam as colônias). Foram formadas várias minicolônias e em cada uma introduziu-se uma rainha produzida em laboratório para ser fecundada por um macho. Por causa disso, o pesquisador também fez uma observação prévia da produção de machos para poder sincronizar a sua produção com a fecundação das abelhas. As minicolônias eram levadas para um ambiente externo para a fecundação com os machos e, ao fim desta etapa, o processo estava completo e a nova colônia estava formada.

Na foto, uma colônia grande e natural ao lado de duas mini colônias.
Dificuldades
O processo descrito é um dos primeiros do tipo feito no País, e encontrou algumas dificuldades no começo de sua operação. Etapas como a transferência das larvas do ambiente natural para laboratório apresentaram obstáculos devido à grande mortalidade dessas larvas, que acabavam sendo feridas pelo estilete que conduzia o processo. Na outra transferência, que leva as minicolônias já prontas para o ambiente aberto, também houve muitas baixas. Fora isso, muitas das rainhas que saíram para o vôo nupcial (para serem fecundadas) não retornaram.
Houve também rejeição por parte das operárias em algumas rainhas. Pelo fato destas terem sido produzidas em laboratório, elas não possuíam o cheiro da colônia, o que fazia com que as operárias não as tratassem como rainhas, chegando a matá-las. Para contornar este processo, o pesquisador passou a manter a rainha presa dentro da colônia antes de liberá-la, para que pudesse se proteger das operárias e pegar o cheiro do ambiente.
Custo
A ferramenta desenvolvida pelo pesquisador é voltada ao produtor, que pode passar a oferecer muitas colônias para o serviço de polinização de algum cultivo. “A ocorrência de abelhas aumenta a qualidade e a eficiência da polinização, pode render frutos maiores, etc”. O que poderia ser um problema é o custo da técnica, já que ela é experimental. Mas, segundo Prato, isso não é um motivo para preocupação. O pesquisador conta que a técnica em si é muito barata e não exige equipamentos sofisticados (o equipamento mais sofisticado utilizado foi a estufa, para manter as larvas em desenvolvimento), o que a torna acessível inclusive para o pequeno produtor.

O trabalho do biólogo recebeu o prêmio Prêmio Dow-USP de Inovação em Sustentabilidade, porque tem sua técnica apoiada nos quatro pilares da sustentabilidade: ecologia, já que os ninhos podem ser conseguidos na natureza sem causar impacto negativo na população selvagem e sem gerar resíduo poluente; sustentabilidade econômica, pela capacidade de gerar renda e independência econômica ao produtor; sustentabilidade social, pois pode ser praticada por grupos, como as cooperativas; e a sustentabilidade cultural, pois as abelhas são nativas, elas “são uma criação que faz parte da história das populações nativas da América do Sul e Central”, completa.


Mais informações: email mauro_prato@yahoo.com.br , com Mauro Prato.
Data Postagem Original: 22/03/2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

Criadores de abelhas nativas das Encostas da Serra Geral buscam forças para legalizar a atividade


Com tres anos de existência a AMESG, Associação de Meliponicultores das Encostas da Serra Geral já possui um dos maiores enxames do estado, são  64 associados envolvendo a grande maioria dos municípios da encosta da serra.



Com o objetivo de reunir esforços, a pedido dos associados da AMESG, o prefeito Celso Heidemann estendeu o convite aos Deputados Joares Ponticelli e José Nei Ascari e ao vereador de Tubarão, Deka May para que participassem de uma roda de discussão com os meliponicultores sobre a legalização da criação e comercialização das abelhas nativas e seus derivados.
         Na roda de conversas na casa do presidente da associação, Guido Defrein foram levantadas as reivindicações e os presentes puderam ter esclarecimentos sobre o assunto em pauta, com o meliponicultor Jean Carlos.
"Um dos maiores problemas esta na legislação e legalização da atividade, uma vez que esta é caracterizada como criação de animais silvestres, porém com peculiaridades muito diferentes de animais como a paca, capivara entre outros. Estas abelhas são responsáveis pela manutenção da integridade de ecossistemas inteiros, constituem-se principais polinizadores de 90% das árvores brasileiras e desempenham uma importante tarefa na nidificação das matas e ecossistemas. Elas ainda disponibilizam ao homem o mel, a cera, o pólen e a própolis, e não são criadas em cativeiro, a exemplo de outros animais nativos, elas vivem soltas em seu ambiente natural. Outro entrave na legislação está na comercialização do mel, que alguns os denominam Natmel. Por ter uma composição diferente do mel da abelha africana, não se enquadra nas normas da ANVISA para o mel."
         A Associação de Meliponicultores das Encostas da Serra Geral realiza um trabalho de resgate e cultura das abelhas nativas desta região, garantindo amor a natureza e a não extinção destas abelhas. Já são cerca de 30 espécies catalogadas e em fase de produção. No estado de Santa Catarina estima-se 10 mil colméias e em Santa Rosa de Lima e arredores são 64 meliponicultores associados, possuindo pouco mais de tres mil colméias. A região das Encostas da Serra Geral estão os maiores cultivares de meliponas do estado.
         Após as explanações das dificuldades e das vantagens da criação de meliponas, ficou o comprometimento dos deputados com a causa. "Vocês definem um equipe para a audiência e nós assumimos o compromisso com os orgãos estaduais responsáveis. A argumentação de vocês é muito forte, deve ser ouvida e a reivindicação é muito válida". Em breve uma audiência deve ser marcada com o Secretário de Estado da Agricultura, João Rodrigues e com Murilo Flores, Presidente da FATMA.
 Sobre as abelhas
         A extinção das abelhas nativas está muito comprometida pela mecanização das lavouras e uso crescente de agrotóxicos, o desmatamento, o aumento da poluição e extrativismo de colméias, por meleiros, tem acabado significativamente com populações. Há, pelo menos, cinco razões que justificam o interesse em legalizar e transformar a meliponicultura em um empreendimento rural:

As abelhas sem ferrão são os principais agentes polinizadores de várias plantas nativas. Preservar essas abelhas contribui, portanto, para conservar os mais diversos tipos de vegetação, há também agricultores utilizando as abelhas sem ferrão na polinização de culturas agrícolas.
O mel produzido pelas abelhas sem ferrão contém os nutrientes básicos necessários à saúde, como açúcares, proteínas, vitaminas e gordura. Esse mel possui, também, uma elevada atividade antibacteriana e é tradicionalmente usado contra doenças pulmonares, resfriado, gripe, fraqueza e infecções de olhos em várias regiões do País.
Além de fonte de alimento e remédio, o mel produzido pelas abelhas sem ferrão pode representar uma importante fonte de renda.
São, de um modo geral, abelhas bastante dóceis e de fácil manejo. Por isso, dispensam o uso de roupas e equipamentos de proteção reduzindo os custos de sua criação e permitindo que essas abelhas sejam mantidas perto de residências e/ou de criações de animais domésticos. Além disso, por não exigir força física e/ou prolongada dedicação ao seu manejo, a criação de abelhas sem ferrão pode ser facilmente executada por jovens e idosos.
Estima-se que, só no Brasil, existam mais de 200 espécies de abelhas sem ferrão. As mais promissoras em termos de produção de mel são as espécies do gênero Melipona, conhecidas popularmente como mandaçaia (nome científico, Melipona quadrifasciata), jandaíra nordestina (Melipona subnitida), uruçu-cinza ou uruçu-cinzenta (Melipona fasciculata), uruçu-amarela (Melipona rufiventris), uruçu-do-nordeste (Melipona scutellaris), entre outras.
A meliponicultura é, portanto, uma atividade de baixo impacto ambiental, que produz um alimento de elevado nível nutricional, e de retorno financeiro garantido. Se bem planejada, a criação de abelhas sem ferrão em caixas racionais pode enquadrar-se, perfeitamente, nas atuais diretrizes que norteiam o desenvolvimento sustentável da região das encostas da Serra Geral: promover o uso racional dos recursos da Mata Atlantica, equilibrando interesses ambientais, com interesses sociais de melhoria de qualidade de vida das populações que residem na região.
Fonte: Associação de Meliponicultores das Encostas da Serra Geral
          Prefeitura de Santa Rosa de Lima
Data Postagem Original: 27/02/2012

quinta-feira, 1 de março de 2012

Refugiados ambientais de Morretes participam de curso de meliponicultura


A meliponicultura é a criação de abelhas nativas sem ferrão, para a produção e comercialização de mel, colmeias e derivados
O professor Emerson Palumbo, integrante da equipe de técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), ministrou o curso  de Trabalhador na Meliponicultura para os refugiados da comunidade de Floresta, do dia 31 de janeiro ao dia 03 de fevereiro, na sede da Federação Espírita de Morretes, local que abriga seis das mais de trinta famílias  desterritorializadas pelas enxurradas do 11 de março de 2011. O curso integra um dos cinco projetos da UFPR Litoral aprovados pela Secretária da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná (SETI), inseridos em um programa em construção com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC/UFPR), que visam gerar oportunidades renda para comunidades litorâneas.
As ações de educandos, docentes e técnicos da UFPR litoral, junto à comunidade de Floresta, no município de Morretes, tiveram início logo após as chuvas de março de 2011 e no ano de 2012 se voltam para o fortalecimento da organização social dos grupos envolvidos, na disponibilização de cursos, oficinas e fórum de diálogos, com o intuito de ampliar as oportunidades de geração de trabalho e renda para as comunidades. Assim o projeto de geração de renda proporciona também uma construção conjunta, da comunidade acadêmica com as comunidades tradicionais, de um conhecimento ético e responsável sobre a preservação e conservação dos ambientes naturais do litoral paranaense.
O curso de meliponicultura contou com 14 inscritos e teve uma excelente integração entre a comunidade e o professor Palumbo. Foram abordados aspectos teóricos sobre a fisiologia e comportamento das abelhas indígenas sem ferrão, interações ecológicas entre os vegetais e seus polinizadores e também noções práticas para a criação e produção de abelhas, mel, própolis e cera. Produtos ainda pouco ofertados nos mercados regionais. O professor da UFPR Litoral Gilson Dahmer comemora mais esta realização. “A continuidade da parceria entre a UFPR Litoral, a Prefeitura do Município de Morretes, a SETI e outras instituições envolvidas como a Federação Espírita e o SENAR, para o fortalecimento social das comunidades vulneráveis, se garante com bases que envolvem a integração mútua, a colaboração e que apoiam também a pesquisa, o ensino e a extensão, pilares para uma construção autônoma de conhecimentos entre os envolvidos e que favorecem a autogestão comunitária”, explica Dahmer.
Post Original: Gilson Dahmer - Edição Aline Gonçalves
Posted 27 fevereiro, 2012